quarta-feira, 22 de abril de 2009

HOMENAGEM aos 125 anos de Augusto dos Anjos (20/04/1.884) " Um homem para muito além de um poeta"

Ser Deus.

Leandro Custódio

Dedicátoria: Ao meu EU e ao EU de A.Anjos.

- Alguém viu minha dor chorando?
Sou tudo, e não consigo ser nada.
Tudo que toco, crio um sentimento,
E todo sentimento, se transforma em tormento.

Vivo, e somente existo...
Para continuar Existindo.

Lírico,
Poeta,
Parnasiano,
Marxista,
Simbolista,
Pessimistas,
Anarquista,
Humorista...
Otimista!

Sou assim, não posso ser assim,
Não consigo ser assim, sou assim!
E não posso mudar mais...
Mesmo que eu queira!

“ Para aonde vou parar?”
E aonde vou, carrego essa alma,
Vazia, triste e Morta.
- Alguém viu a minha dor passando?
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O pai de Anjos.

Leandro Custódio

Uma parceria para eternidade

Certo dia, um moço bem mocinho,
Mostras-te alguns versos ao pai doente,
- Toma pai, leia este meu sentindo poema.

E antes de ler a minha palavra
O verme pai melancólico na cama
Disse com a ânsia de morte...

- Filho, não escreva mais.
Isto é influência de Sinhá mocinha,
Tua mãe. E você é homem, é macho,
E isto é coisa de menininha.

- Não pai, meu querido pai,
Não compreendeste minha lira,
A influência é sua, e poesia,
Não é coisa de menina.

O Senhor que foi contra dito,
Segurou o braço do menino
E antes que vomitasse a blasfêmia...

- Meu velho, pai velho, acima de cinqüenta.
Só eu, e nem Deus, e mais ninguém, te agüenta.
Viveremos juntos sozinhos, sem mãe, sem casa.
No sul, na morte, no norte, num canteiro da estrada

E antes que o tapa viesse à cara
Numa injúria fúria de desabafo...
O menino leu...

“Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!

Que coisa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!

Magoaram-te, meu Pai?! Que mão sombria,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pesar havia?!

- Seria a mão de Deus?! Mas Deus enfim
É bom, é justo, e sendo justo, Deus,
Deus não havia de magoar-te assim!”

POESIA - Vir a Ser fera .

Leandro Custódio

Como a descraça humana
Para satisfazer o meu fetiche.
Não brinco em serviço
Na hora de recolher o ossos.

Prefiro a carne magra,
Não necessito de fartura,
Sou socialista até na hora do banquete
Divido a carcaça com os vermes,
E o sangue podre com as paredes.

Sou fera, Não sou fera, Necessito ser fera.
A miséria encanta , engana,
E aí de correr vísceras humanas.
Como a peste que ataca os órgãos ,
E quimera que destrói...
Os Sonhos e os sonhos.

POESIA - Para além da inteligência do público

Leandro Custódio

I

Verme, lágrima de sangue branco.
Bactéria, achatada, mastiga os ossos da velha.
Vírus, fecundo, mutante, raiz da desgraça.
A AIDS é humana, amiga da raça.

Como se a Dengue causa-se tormento...
Nem o HIV, nem a enxaqueca
Causaram essa tragédia.

Sabe os ossos daquela velha?
Então, estão em farelos e logo vão para caixa
Lacrada, estúpida, sacrossanta, fechada!

Sabe seu marido aquele lobo do mato?
Macaco velho, fera do bosque!
Envio lhe o calho em teu rabo
Assim sangrou, infeccionou e matou.

POESIA - Versos Póstumos e Cotidianos.


Leandro Custódio


Há conheci um dia,
Por volta do meio-dia,
Com os dentes sujos.

Havia uma barreira de madeira,
Melhor dizendo um balcão.
Um vidro sem reflexo.

Isso bastava, para ser tão fria e seca
A relação que aos poucos se construía.
- E não havia como cumprimentá-la –

O espaço só passava o cartão,
Uma parte do braço e a mão.
- Não nos tocávamos, nunca! –

Eu só via o perfil, seu rosto,
A alguns detalhes da coxa.
- Que lindo este sorriso –

No começo não notá-la, e
Nem entrava em sua fila, e
Não fazia questão nenhuma.

Sentava longe só no começo.
Aos poucos fui mais perto,
E mais perto, pra você me notar.

Não te olhava, não a encabulava,
Só sentia a sensação de imaginar
Você, a me olhar e me admirar.

Tomava sempre café, - Esperava -
Dava um tempo, - Duas opções -
Eu ia a você, escolhia apenas você.

- Olá, tudo bem?Como está? (...)
Recíproco é o nosso diálogo.
- Nem sempre, retifico e friso! –

Quieto, às vezes ficava.
Quieta, poucas vezes ficava.
-... Três e cinqüenta e nove! (...)

Era apenas um instante,
Não durava um minuto.
-... Crédito ou Débito? (...)

Imprimia, olhava , assinava,
Sorria, olhava e agradecia!
- Como é entediante minha vida –

Ficava apenas o sentimento
Vago da nossa sensação.
Ah! É lógico, e a excitação.

Horas: tristes mal morados e doentes.
Outras, felizes, alegres e contentes.
Assim que aos poucos nos conhecia.

E até hoje é assim.
Temperando no Tempero
- Qual será o seu desejo? -

-... Obrigado moço.
- Boa Tarde moço.
- Volte sempre!

... ... ... ... ?
... ... ... ... ?
- Voltei sempre? -

quinta-feira, 9 de abril de 2009

POESIA- Porta retrato

Leandro Custódio

Esses meus olhos azuis,
E meus cabelos loiros,
Faz-me retrato, retrato
Que me dispensa a goma na roupa.

A pele branca seca,
Seca de melanina,
Fazem-me um anjo,
Numa entrevista de trabalho.

Não é necessária boa conduta
Nem ficha limpa.
Domino meio língua, quebra galho,
Pronto to contratado!

E vejo no restante da fila
Meia dúzia de negros e pardos,
Nenhum Porta Retrato,
Nem brancos retardatários,
Para contar a história dos oprimidos.

E com aqueles olhos de águia
Que quase não fogem nada
Interrogam todos eles.

- Nome?
- Profissão?
- Obrigado!
-Dispensado.

E assim, na espera...
De mais um bem moldado,
Na estrutura do retrato,
Continua a história,
Do Emprego do Impregnado.

POESIA- Para além do sentimento negro.

Leandro Custódio


Para aqueles que ainda não perceberam esse marketing.

Negro,
Contente,
Alegre,
Sorridente.

Que Idolatra,
A Propaganda
Do branco que engana
A índole dessa gente.

Não entregue sua vida
No buraco da ferida.
Pois a história lhe ensina...

Ensina que os porcos se vestem de branco
E que desenham em tão nobres panos
O símbolo racista do ariano.

POESIA- Falando de Amor

Leandro Custódio

Para esperança,
Daquela criança linda,
Madura e estranha.


Se a noite acaba-se
Entre as luminárias do céu,
Tirarei toda sua roupa,
Não deixaria nem o véu.
E beijaria o seu corpo
Todo Banhada de mel.

Quase não me nota,
Mas quando me notar,
Buscarei um pouco de ar,
E algumas estrelas do mar.

Falarei da vontade e do mundo,
Encantarei você com a virtude,
Desse homem romântico e profundo.
Farei um bolo de cachaça amarga,
E juraria aos seus pés:
- Jamais te deixarei solitária.

Contaria histórias de amores,
De loucuras e de paixões.
Você será minha musa
Igualmente a de Camões

Eterna, viva em meus livros.
Farei mil poemas escritos
Nem que seja talhado em sonhos
Sonhos de ainda infelizmente amigos.

Talvez não me iludo, mas..
Sei que estudo e não estudo.
Seus olhos estão longe dos meus,
Mas sempre vou ser eternamente seu.

Paixão rodeia as madrugada,
Tudo acaba tristemente em nada.
Pois sua boca borrada de batom
Não tocou em meus lábios.

Então com calma e paciência de sábio,
Direi a você com palavras cantadas:
- Será comigo a mulher mais amada.

POESIA - Educação como vontade e revolução.

Leandro Custódio


Os revolucionários querem esclarecer,
A quem sempre se esclareceu.

A mudança ocorrerá,
Por um meio, que nunca ocorreu.

Pode ser o socialismo,
Ou até mesmo, o direto comunismo.

Conhecemos no mundo diversos caminhos.
E até mesmo as correntes do anarquismo.

Utopias, quimeras e sonhos
Buracos, crateras e morros.

Tudo demorará muito tempo
Tempo que tudo desmoronará.

Ah! Qualquer que seja a barba branca,
Marx, Bakunin, a revolução acontecerá pela criança.

Digo algo desvinculado de religião e moralismo,
Que seja algo novo, só não seja o protestantismo.

No Brasil será devastado esse hibridismo,
A mistura sufocante do cristianismo com o capitalismo.

São os ventos alísios dos cristãos
Que Nietzsche sempre dizia,
É a revolução na educação!
De forma que a esquerda não esperaria.

Mas somente conversando com as crianças,
Sendo paciente como professor,
Não doutrinando, seremos educador.

Desculpe Schopenhauer.
Não educaremos com amor,
Nem viveremos com a dor.

Emanciparemos estes seres
Que já tiveram a infância destruída,
Conhecerão a liberdade,
Que o sistema corrompia.

Que o Brasil provocou,
Que o jesuíta incentivou.
O futuro não dormirá mais na rua,
E a verdade será dita, nua e crua.

Lá em Salvador,
Não conheci a paixão
Vi o negro, vi a dor,
Vi a igreja linda do cristão.
E o cego egoísmo da compaixão.

Nada soluciona ou tapa
O buraco negro, brasileiro,
Isto acalenta só por alguns segundos
Tal misericórdia de esmola,
E a dó que um dia foi bater a tua porta,
Vai bater no peito preto da preta morta.